As linhas que fui escrevendo, por todo este tempo, mostraram-me que todos os capítulos foram bem encerrados e deram-me, sempre, a conhecer que eu estava mudado. Quis a vida, no entanto, que o meu fascínio se tivesse perdido pelo caminho para mais tarde o encontrar e ter um sabor distinto. Algo azedo mas prazeroso para quem, como eu, que prefere café amargo, sem açúcar, para que lhe possa sentir o gosto até ao fim. 

Puxei a chávena para diante de mim. Dei mais um gole. Como se a energia que a cafeína me desse fosse a combustão que eu precisava para abrir a caixa de mensagens e escrever. Sem pensar muito bem em quê. Sem qualquer que fosse o roteiro. Só abrir a caixa de mensagens e deixar que fosse essa melancolia a falar por mim. Como uma ode aos velhos e áureos tempos em que a minha capacidade criativa palpitava. Mudam-se os tempos. E que tempos estranhos vivemos. Mudam-se as vontades. E que vontades temos todos de fazer tudo ao mesmo tempo. 

Talvez eu tivesse esperado muito tempo por este tempo. O tempo que me deu a conhecer mais de mim. Mais de nós. Mais acerca daquilo que ansiamos. Talvez todo este café que bebi sem escrever tivesse sido tempo ganho para perceber que o meu caminho foi, é e será este. Mesmo que os tempos e as vontades se mudem. Uma e outra vez. Mesmo que seja só, e tão somente, desta forma precária e à espera da tal combustão. Mesmo que seja necessário olhar para trás e perceber que o futuro começou aqui e que, tempos depois, continua à espera que eu o pegue ao colo.