Todos Sabem. Ninguém quer Crer.

by - 22.6.20


Não queria voltar a tocar neste assunto mas acredito que, esta, seja a melhor altura para o fazer... até porque, segundo se diz: "alertar sobre o tema é sempre necessário!". Foi, precisamente, esta afirmação que me fez selecionar uma série de fotografias datadas de sábado e escrever, uma vez mais, sobre doenças do foro psicológico. Aquelas doenças que todos sabem que existem, mas ninguém quer crer nelas.
Falo por experiência. Falo por já ter passado pelo suplício que é ter uma mente que me comandava sem que lhe desse qualquer que fosse o tipo de premissa. Falo porque, infelizmente, vivi com ela durante meses. Por e sem razões aparentes. Uma depressão não tem que ver, necessariamente, com "tens um feitio complicado", "só queres atenção", "tens uma vida boa, deixa-te disso" ou "há muita gente pior que tu!". Todas as pessoas que estão ou passaram por todo este processo de sorrir por fora e chorar por dentro, sabem a dor que é sentirmo-nos incompreendidos e o quanto agudiza e nos faz pior as opiniões de desvalorização deste, tão grave, problema.


Custa crer que, em pleno ano de 2020, ainda haja uma necessidade grotesca de justificar o que quer que seja. Vivemos presos a nós próprios e, ao invés de procurarmos ser empáticos, damos prioridade em saber o porquê. Na verdade, quando se trata de uma depressão - que pode levar-nos a caminhos trágicos tanto quanto o do Pedro Lima que fez Portugal ficar em choque -, nem sempre se consegue perceber o que se passa. Sabemos, à partida, que todos os dias lutamos contra nós próprios sem saber muito bem em que rumo estamos. Podem existir causas mais fáceis de descobrir, sejam elas familiares ou monetárias, por exemplo. Mas, acreditem, são muito mais as que não dão qualquer tipo de sinal!


Falar sobre problemas relacionados com o foro psicológico - depressões, ansiedade, ataques de pânico -, é falar de problemas que dormem connosco e acordam connosco no dia seguinte. Que nos fazem encontrar na bipolaridade uma corda bamba. Estamos bem hoje. Com sorte, amanhã, voltamos a estar ok. Dias depois, acordamos meio ensombrados, num dia péssimo, a achar que nada vale a pena. Que não somos ninguém. Que não merecemos a vida que temos. Que tudo é miserável. O mundo pára e, por muito que estejamos rodeados por pessoas - que até nos querem o melhor -, a solidão toma conta. A mente entra num colapso tal, que são mais as perguntas do que as respostas.


Por ser uma doença tão subjugada pela sociedade, a forma como se encara a mesma, acaba por ser uma farsa. "Ah, não tenho nada! É só um dia mau. Faz parte, não é?!", desculpamo-nos e fechamo-nos em copas por, à partida, sabermos que não vamos ser compreendidos. Isto, num loop desmedido. Assumir a doença e procurar ajuda não está nos planos. Até porque o chefe não vai consentir que se falte ao trabalho porque o dia não está mais grave do que se imagina, nem vai achar piada aos ataques de pânico que possam surgir do nada; a escola e os professores também não devem achar grande piada, porque se vai faltar às aulas por se ser "malandro"; a família e os amigos - que nem são assim tão chegados quanto dizem -, vão achar que tens uma vida tão incrível que "vais ter de te deixar disso".

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E assim seguimos. Meio sem saber o que fazer mas sabendo que é necessário agir, por nós, antes que seja tarde. Combinamos uma consulta na psicóloga e, aí, a vida começa a fazer algum sentido. Com sorte, vamos começar a encontrar o verdadeiro sentido de cá estar. Mas, para isso, vamos precisar de penar muito. De voltar atrás no tempo e de começar a arquivar gavetas que, meio abertas, nos assombravam. Achávamos que ia ser mais fácil e que seria zero custoso. Afinal, estávamos só à espera daquele comprimido meio milagroso que a avó tomava para se acalmar e dormir tranquilamente. É aqui que descobrimos que, doenças do foro psicológico, precisam de nós para serem curadas.


Vamos perder tempo e vamos ganhá-lo connosco. Precisamos de nós e das nossas descobertas mais do que nunca. Dia após dia, embora as adversidades da vida custem, vamos sentir a plenitude e a liberdade. Olhamos para trás e percebemos que o primeiro passo já foi dado: o assumir que algo de errado não está certo. Em frente, um caminho meio sinuoso palmilhado apenas e só pela cura: nós. A mente continua meio descontrolada, num turbilhão. Aí vamos encontrando a nossa força interior que nos diz que, embora existam dias de dor, haverá sempre luz ao fundo do túnel. Que é importante sermos resilientes e pensar que, os dias maus são necessários para os dias bons valham a pena.


Nasce-nos a esperança em dias de incerteza. Na tempestade vemos a acalmia. Olhamo-nos ao espelho que reflete a alma límpida. No coração, a força de viver. E, na mente, de forma inesperada, a vontade de vencer. Agarramo-nos a nós mesmos, num abraço apertado, e agradecemos pela capacidade que tivemos mesmo sem saber que ela lá estava. O abrigo seremos sempre nós, assim como o conforto. Com tudo isto, olhamos à nossa volta e agradecemos pelo tanto que deixámos ir e que tanto nos trouxe. O tempo será o melhor amigo e vamos perceber que é, com ele, que precisamos de aprender!

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