Devo confessar que andava sem grande inspiração para escrever. Não por falta de tempo mas, essencialmente, por achar que nada acrescentaria. A verdade vai dar a apenas um caminho: o tema quarentena vs corona vírus, assolam-nos nas redes sociais e assaltam-nos as notícias que nos entram, sem qualquer pedido, pela televisão.

Já falei acerca do assunto por diversas vezes e, embora aquilo que escreva hoje esteja relacionado com o tema, acaba por ser diferente. A quarentena tem-me provado muitas coisas aos mais diversos níveis. Já testou os meus limites e já pôs à prova a minha capacidade criativa um sem-número de vezes. Entre tudo isto, fez-me pensar. No valor. No valor que atribuo à vida e, essencialmente, no valor que atribuo aos meus. Pode parecer e soar muito estranho, mas a verdade é apenas uma: a minha quarentena tem sido feita por pessoas.

Não obstante a distância física, toda esta temporada em casa - sem qualquer tipo de contacto com quem quer que fosse -, mostrou-me o lado mais bonito. Mostrou a força da palavra e a falta do toque, mesmo que uma mão lave a outra, tal e qual como se diz na gíria. Esta reflexão fez-me olhar para o número. A quantidade. As pessoas que conhecemos para determinados eventos da nossa vida e que parece que se esqueceram que existimos nesta altura; as que apareceram e nos mostraram o lado bom que é poder enviar um vídeo ou ter o gosto de fazer uma vídeo-chamada só para falar sobre o nada.

Estas são as pessoas que merecem ser levadas e guardadas no peito depois de todo este tormento. Estas são as pessoas que fazem os dias parecer menos longos e com mais cor. Talvez dourados, tal como o próprio título indica, por acreditar que só as pessoas de luz nos ajudam a encontrar o rumo e a perceber o real, eterno e intenso valor do que é ser amigo. Hoje, não nos podemos queixar acerca do tempo. Do tempo que achávamos que não podíamos despender para ligar e perguntar se está tudo dentro dos conformes.

Hoje, sabemos quem somos e quem queremos, melhor do que ninguém. Damos valor ao que temos quando perdemos. Mas damos um valor transcendente quando alguém dá o máximo por nós e nos mostra o melhor que somos. Na boa verdade, sentimos o calor do abraço virtual sem ser necessário pedir. Só a companhia. Os momentos, agora, são partilhados por prints, filtros no instagram em forma de bolacha maria ou com uma face disforme. O intuito é de fazer sorrir. O à vontade faz-nos deixar de querer ligar e a vergonha que havia em ligar, hoje, deixou de existir.

Sempre relativizei a falta de tempo que andava de mãos dadas à falta de vontade e contra mim falo. Achei sempre que as prioridades fazem as pessoas e que é através delas que se sabe o que realmente querem. Todos temos vidas travessas, todos precisamos do nosso tempo e o tempo, até então, éramos limitado. Hoje não nos podemos desculpar. Trocaram-se as prioridades e desdobram-se os esforços para podermos falar com mais pessoas ao mesmo tempo.

O telemóvel apita insistentemente e, se outrora olhava com desdém sem vontade de responder ou evitava ter notificações ativas, hoje corro para o telemóvel porque, alguém dos meus, pode estar a precisar de mim. Quanto mais não seja para nos rirmos das atrocidades uns dos outros. Para pedirmos uma qualquer opinião sobre uma fotografia a publicar, sobre uma receita, para desabafar porque o dia foi demasiado monótono, para partilhar uma ideia de um projeto futuro. Enfim, sobre qualquer coisa.

Esta guerra é de todos e terá, por conseguinte, de ser ganha por todos. Não há muito por onde fugir. As guerras curam-se com amor. Travam-se com empatia. E não resistem se assim for. Que tenhamos paciência para os tão aguardados dias dourados ao vivo. Em real e a cores. Que a nossa mente perceba que cada dia é menos um dia para que os abraços que enviamos de forma virutal, ganhem espaço entre os nosso braços. E assim será!