Cumprindo as normas de segurança, tenho saído de casa raramente. Muito pouco, se é para vos ser mais sincero. As minhas únicas saídas, são só para ir ao supermercado ou, quando o corpo pede, para ir dar uma volta. Os tais passeios higiénicos que pouco menos de 20 minutos demoram. Continuo com medo... mesmo que esse medo seja controlado.

Controlado pela força da minha mente e pela minha vontade de que tudo isto passe rápido. De forma mais célere possível e de maneira a que possa festejar o meu aniversário com os meus. Sem grande expectativas, porque não se sabe o dia de amanhã mas, em fila de espera, pelas dezenas de coisas que tenho pendentes. É engraçado, olhar para tudo isto e perceber que as pessoas mudaram e que a vida, no geral, tomou um tombo do qual ninguém esperava. Mas vejamos isto como um copo meio cheio, por considerar que é importante.

Vivíamos presos ao que nos era, erradamente, garantido. Andávamos sempre sem tempo, no meio dos nossos afazeres que nem eram assim tão importantes quanto isso. Olhávamos as pessoas pelo ombro, baixávamos a cabeça para não cumprimentarmos a pessoa que conhecíamos e que estava do lado oposto da rua. Cancelávamos jantares, cafés, encontros e reencontros, só porque não tínhamos o que vestir ou porque a paciência nos era pouca. Hoje, olhamos para tudo isso e, olhem no que deu: estamos todos em fila de espera. À espera de poder abraçar e beijar novamente. À espera que a campainha soe e nos deixe voltar a remarcar tudo aquilo que havíamos recusado.

Quisemos, exacerbadamente, levar a vida demasiado a sério. Regidos e levados pelo sabor do dinheiro. Pelo suor de trabalho. Uma sede de querer mostrar-se mais. A viver só e tão somente para aquilo. A lutar por um futuro que nem se sabe que existe. A adiar uma vida porque, no fundo, os objetivos não eram assim tantos. A não querer saber do outro. Se está bem ou não. E olha no que deu: continuamos em fila de espera. Porque estamos parados. O trabalho está parado e, por se levar uma vida tão rotineira, o rumo acaba por se perder.

Julgo que tudo isto, nos veio provar muita coisa. Essencialmente, que não devemos adiar a palavra e o toque. Que, no fundo, não devemos adiar a vida. As vitórias da pandemia serão as pessoas. Será o olhar novo, a vida nova. A vitória será a construção. A fila de espera vai permitir-nos refletir mais, ponderar mais e encontrar o nosso novo Eu, depois disto tudo. E isso é tão, mas tão positivo! Que a nossa capacidade de aguentar na fila de espera, seja mais intensa amanhã do que hoje... porque em breve, estaremos todos reinventados! 

#ficaemcasa #stayhone #vamosficartodosbem