Tenho 27 anos e, honestamente, nunca me senti com tanto medo e tão vulnerável. Estou a gastar férias do ano passado e, felizmente ou infelizmente, o caos instalou-se nesta mesma altura. Tinha tudo para viver uns quantos dias de forma tranquila e até a meteorologia estava a ser favorável. Até então, os meus dias corriam de forma tranquila. Tentei sempre ter um raciocínio lógico, ponderado e equilibrado.

Tomei todas as precauções que devia. Fui o mais fiel às indicações dadas pela Organização Mundial de Saúde mas, ainda assim, todo o cuidado é pouco. Com isto, preferi ficar em casa, saindo só para fazer o estritamente necessário, em locais que sei que vão estar parcialmente vazios. Caminho para o terceiro dia em casa e, agora sei, o quão complicado é vermos a nossa liberdade condicionada... mas é melhor assim.

A televisão está desligada porque me sinto saturado de ouvir tanta informação que, a dada altura, me faz sentir com ânsias. Com medo de tocar no que quer que seja. O álcool em gel virou o nosso melhor amigo. O sofá nunca deve ter sido tão gasto por mim quanto é agora. Tenho estado por casa meio entretido. Nesta altura, dou graças ao facto de ter um trabalho digital que me permite desanuviar e entreter pessoas, seja de que maneira for... e, consequentemente, se temos uma voz, então que essa mesma voz seja usada no sentido de alerta, no sentido de mostrar a realidade dos factos e de dar a conhecer - uma e outra vez -, que nós (nós, Seres-Humanos) somos a solução para este tão grave problema.

O meu quarto também já deve ter sido limpo o equivalente a um ano. Mas pouco importa. Foi mais uma forma de enfrentar a dura realidade de ter de ficar trancado em casa, de forma voluntária e por medo. O medo que sinto de, na próxima semana, ter de encarar o facto de trabalhar como lojista estando, com isto, mais suscetível. Mas vamos respirar fundo e cuidar, também e de forma importante, do nosso mindset. De nada nos vale entrar em pânico; de nada nos vale ir a um supermercado e esgotar tudo quanto há sem pensar no outro; de nada nos vale assumir um papel ativo nesta luta se as mãos continuam por lavar, se ainda se espirra para o ar ou se tosse para a frente de uma pessoa.

Vamos aprender a respeitar o espaço do outro. Vamos aprender a dizer mais vezes "bom dia" e vamos deixar os beijinhos de lado. Vamos deixar as noites de lazer, os jantares de fim-de-semana, as idas ao shopping. Vamos combinar ficar em casa sempre que possível, vamos respeitar as normas de segurança e higiene, e vamo-nos manter informados - somente -, por tudo aquilo que seja de fonte fidedigna. Vamos lavar as mãos, tossir para o braço, espirrar para um lenço que, de seguida, vai para o lixo e andar prevenidos com álcool em gel. Vamos ser menos egocêntricos, menos egoístas e vamos ser mais uns para os outros.