Passaram precisamente 10 dias. 10 dias de isolamento e distanciamento social, de forma voluntária. 10 dias em que vi a minha rotina a mudar de forma completa e a ver-me obrigado a estar comigo entre 4 paredes, num rol de pensamentos aleatórios sobre o que era, o sou e o que serei depois de toda esta calamidade. 

Sempre fui uma pessoa muito ativa, na medida em que gostava de andar sempre cá e lá. A rotina do trabalho consumia-me, é um facto, mas pouco importava quando sabia que, depois disso, teria uma série de coisas para fazer à minha espera. Fosse fotografar ao final do dia, um convite inesperado para jantar fora com meia dúzia de pessoas de quem gosto ou, tão simplesmente, a rotina de nos reunirmos todos, à noite, na mesa de um café. Efetivamente era fã da rotina. Da minha hora certa para acordar - sem ajuda do despertador porque o meu Eu biológico já estava mais do que programado -, da minha hora de sair de casa para ir arejar as ideias. Das idas às segundas para Lisboa. Dos sábados à noite de festa. E dos domingos do descanso santo.

10 dias depois e, sem quê nem para quê, tudo mudou. Os primeiros dias foram ótimos para recuperar as horas de sono sem me sentir culpado. Dormi imenso e, certamente, vi recuperadas as horas de sono e o cansaço acumulado dos últimos tempos. Mudou a minha rotina e a forma como a vejo. Talvez, agora, aprecie o facto de estar por casa mais do que nunca. Tenho treinado todos os dias, algo que já não fazia há largos meses por falta de tempo. Voltei a focar-me neste meu projeto pessoal, que me continua a dizer muito e que, no fundo, faz com que o tempo passe mais rápido. A falta de tempo fazia-me sentir a desprezar tudo o que havia construído. Olho-me ao espelho de forma diferente. Cuido mais da minha pele. Fiz o desmame do café - o que foi um bom sinal -, e, de uma média de 5 cafés que tomava, hoje tomo 1. As conversas com os meus pais - que eram só de refeição -, passaram a ser conversas mais coesas e mais sólidas, embora muito focadas na calamidade social pela qual passamos. 

Hoje, 10 dias depois, mesmo tendo saudades de uma rotina mais ativa, começo a ver o copo meio cheio. Hoje, 10 dias depois, percebo que a mudança é quase sempre positiva. Hoje, 10 dias depois, vejo-me mais paciente.